Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de outubro de 2009

Ninho

Cá no meu mundo, soluço é ocre-alaranjado. Com um quê de tenro, outro de azedo, se assemelha a brisa silenciosa sobre mar revolto.
Já tristeza é macia e úmida. Mesmo com tantas nuances desnudas-carnudas, dourada se desfaz em inocente e avermelhado botão.
O lamento, esse é agridoce. Hesitante, entorpecido entre lascas de secura estéril e um bocado acetinado de miragem esmaecida, desfila na língua que insiste em se refletir sensível.

Cá no meu dentro, o sofrer se desfaz e se distrai em mim. Enquanto beija flor descansa - asas pro alto - correnteza baila descompassada e girassol sussurra letras rimadas, eu desmeço e me despeço do tempo anoitecido, para ser livre-liberta em horizonte infindo.
Desejo, então, à lânguida estrela-ardente, uma pilha de poesia soprada ao vento e um imenso monte charco-vivo de sentimento.

Cá no meu tempo, minhas asas flanam sol-a-pôr-do-sol. E no meu mundo, tão vasto e descabido mundo, tudo é beleza e estranhamento-cúmplice. Até lágrima que escapole seca, me amarela, me irradia.

Nesse meu canto - pros meus encantos! - rodopiam desembestadas palavras efêmeras-cruas. Elas sorriem embriagadas e me desmontam - dor após dor - com um frenético - e intrépido! - mi bemol intenso de armaduras nuas.

Sylvia Araujo

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