Respira, 1, 2, 3...
Again: uma pessoa estava descrevendo a reação de uma outra pessoa em relação a determinado assunto e disse que ela estaria fazendo cara de água morna ante o fato. Tcharam! E eu, como boa sinestésica que sou, a-do-rei, claro! E é engraçado isso, porque a sentença tem uma conotação pejorativa pra mim, mas depois, pensando bem, acho que não deve ser assim pra todo mundo... Porque afinal, a sensação do morno normalmente é boa, aconchegante, calmante até. O que obviamente causaria desconforto para os mortais - me embasando no senso comum - seria o gelado ou o pelando. Ou não? Mas pra mim é intrínseco que cara de água morna é aquela cara sem sensação, sem expressão, sem intenção, sabe? Como cara de paisagem, cara de samambaia, cara de lago. Tudo assim, paradinho, insosso, inodoro, indolor...
Filosofando mais um pouco (muito mais, pra ser justa) percebi - chocada! - de que o que eu quero mesmo é rebuliço... Procuro sempre o arrepio da queda livre e o sem-ar da correnteza. Boiar no remanso me causa estranheza - e enjôo - porque sempre nadei contra a maré, desde que me entendo por gente. E hoje, por causa da tal cara de água morna que alguém escreveu em algum lugar, falando de alguma situação que eu sequer sei qual foi, cheguei à brilhante conclusão de que eu definitivamente tenho problemas.
Ou crio problemas.
Ou sou o problema.
Ah, sei lá. Melhor deixar quieto!
Vai que o problema cresce... e aparece! (xô!)
Sylvia Araujo
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