Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de outubro de 2009

Jaque

Estávamos Louca da Pia (essa sou eu. Não ri não; nem pede pra explicar), Louca do Sótão (você já- já vai entender), Louca da Casa (fornecedora desses apelidos tão carinhosos) e seu ilustre digníssimo (a culpa é toooooda dele!), nos divertindo como sempre, numa daquelas noites entre amigos de fé, irmãos camaradas, de papo-vai-papo-vem-traz-mais-uma-lá-jaque-você-tá-em-pé, quando horas e horas depois percebemos a sutil evaporação da criatura.
- Ué, cadê Louca do Sótão?
- Ih!
- Caraca, sumiu!
E lá começa a peregrinação. Nessas horas, parece que a menor casa do mundo é capaz de se transformar em um labirinto interminável, digno das sagas angustiantes de Harry Potter. E abre a porta do quarto da criança, que dorme que nem anjo (alguém precisa exercitar afinal a não-insônia, pelamor). Nada. E abre a porta do aposento do casal. Nada também. E passa o raio x pela sala. A bolsa tá aqui, mas cadê a meliante? E acende a luz do banheiro, e fuça tudo, até no box. Absolutamente nada. E vasculha a área in-tei-ra. Neca de pitibiriba...
Prestes a iniciar o gato-mia, resolve-se, entonces, num lampejo de sanidade (tá, tinha cerveja no meio, mas nem era pra tanto) meter a mão na maçaneta do forte da adolescente quando, como num passe de mágica, a porta se abre - num silêncio de meter medo até no mais macho dos machos...
E de lá de dentro, atrás de um sorriso deslumbrante, com a cabeça inclinada e os cabelos esvoaçantes, naquela voz felpuda que é só dela, sai:
- Oi! Tá boa?

Agora diz aí: esse ser insano merece ou não merece o apelido que lhe cabe? (Pra quem não sabe, a Louca do Sótão fica lá quietinha, até que a gente solte a coitada pra dar uma voltinha.)
Diz aí de novo: tem como não amar enlouquecidamente essa destrambelhada? (rasgação de seda básica, pra não passar o feriadão de olho roxo!)

PS.: Faz tempo que tô avisando que não tô boa... nas entrelinhas eu disse em alto e bom som: CORREEEEEEE!

Sylvia Araujo

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