Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de outubro de 2009

Espelho

Ele veio despretensioso. Chegou aos tropeços, estabanado, esbaforido. Tinha um sorriso tão límpido que me afastou. Não sou muito adepta aos espelhos, e como me via em seus olhos sempre que eles me alcançavam a fronte, paralisei.
Aos poucos, fui percebendo que perceber a si próprio é sempre o mais importante e que, olhando pra aquele ser humano tão cheio de medos e de amor, eu tinha a mim mesma o mais perto que consegui estar, durante todos esses anos de abundantes reflexões. Se encontrar e se ver faz parte de um processo de cura que arde e queima absurdamente. Mas resolvi que quero estar aqui, ali, com ele e comigo. Independente da intensidade da dor, serei eu enfim. Me sinto liberta e isso me basta.
Talvez eu tenha, pela primeira vez na vida, me apaixonado por mim mesma. Não é avassalador, mas sutil e sereno. Aquela garota refletida na íris de alguém tão especial me despertou bons sentimentos, daqueles que você se sente bem só em sentir.
Decidi aceitar o auto-elogio, sem a insistente mania de virar as costas e esquecer tudo o que ouvi.
Talvez eu seja mesmo boa, uma boa garota. Talvez eu seja mesmo como ele, especial, iluminada... Depois que ele chegou, mesmo sem tê-lo, o mundo ficou menos opressor; vejo meu sorriso mais leve, minha dor mais amena...
É bom ter com quem dividir o amor, mesmo que o outro não saiba. Mas não faz mal, já que o que realmente importa é que, pela primeira vez, em toda a minha vida, o espelho me salvou.

Sylvia Araujo

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