Amolou a lâmina fina na pedra gasta e atestou o fio da faca na palma da mão. O aço cortante fez brotar um rio vermelho entre as linhas da vida e da morte. Faltou sorte. E um coração no peito. Com o olhar perdido no reflexo do espelho, afundou a ponta brilhante na veia saltada do pescoço. O colo arfante suspirando o último ontem. O frio do medo, o frio da lâmina, o frio do fio - tênue. Sangrou todos os medos, escorrendo todas as dores. E acabou. Sorrindo.
Sylvia Araujo