Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

8 de dezembro de 2009

Nem mais um dedo

- Não me venha com esse riso frouxo dos alforriados, dos enlouquecidos! Eu não quero que essa alegria suja me corrompa os dias, me lambuze os beiços. Sobremaneira entenda que eu não tenho laços - não, não tenho traços. Tá tudo acabado!

- José, não destrate tanto nosso amor de bodas... Não te quero entranhas, só teu riso fácil das camélias livres, das ervas de cheiro... Não rasgue meu peito, não arranhe os discos, te suplico, amor, não assopre os sonhos!

- Eu não tenho pressa. Eu não tenho medo. Sou o que me resta e nem mais um dedo.


Sylvia Araujo

Engasgo

Muitas das cores que hoje me margeiam vêm dos sorrisos engasgados do sol, em dias de nuvens muito cinzas - quase pretas. Esse luxo de simplicidade faz meu olhar crescer como as sementes que rangem aos pingos - que abrem sorriso ao alvorecer.

Muitos dos cheiros que me cirandam hoje vêm dos soluços engasgados da lua, em noites de nuvens muito brancas - transparentes, quase nuas. Essa luxúria de poesia faz meu coração saltar como os sonhos que florescem ao tempo - que abocanham sentidos ao entardecer.

E das desurgências hoje eu sinto o gosto, um sabor intenso que me toma inteira - como engasgo de amor latente.


Sylvia Araujo