tag:blogger.com,1999:blog-44314555799125448022024-03-14T02:27:42.780-03:00Sonhos SopradosSoprando palavras, florescem meus sonhos.Unknownnoreply@blogger.comBlogger185125tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-18287652308457931172011-04-03T18:42:00.006-03:002011-04-03T18:54:45.901-03:00Muda sinfonia<div style="text-align: center;">É longe, a noite.</div><div style="text-align: center;">Ainda que aqui </div><div style="text-align: center;">- em mim -</div><div style="text-align: center;">é braço inteiro de distância</div><div style="text-align: center;">mais dois sorrisos </div><div style="text-align: center;">murchos.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">É dentro, o escuro</div><div style="text-align: center;">que engole a chama tremulante</div><div style="text-align: center;">e vara </div><div style="text-align: center;">os dois pontos brilhantes</div><div style="text-align: center;">- equidistantes -</div><div style="text-align: center;">do teu céu.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Fecha os olhos</div><div style="text-align: center;">e canta,</div><div style="text-align: center;">que amanhã</div><div style="text-align: center;">azulo.</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-51486560878003808262011-03-26T20:01:00.002-03:002011-03-26T23:55:05.173-03:00Duro poema cru<div style="text-align: justify;">Outoneço. Desverdeada, busco insana um porto onde espreguiçar o olhar - esse olhar que hoje me esparrama tristezas que até as palavras ir-reconhecem. De dentro, vem em golfos lava fervente que me escorre, abrupta. É súbita a destemperança que reveste de escureza esse tão cheio vazio que me carcome as tripas: é urgente o nada a dizer. Portanto, nada digo para que não se gaste o gesto - escoo em tortuoso e duro poema cru, o medo. Sozinho-me em desbotados instantes meus e anoiteço letra - ela há de empacotar com cuidado os miúdos haveres, há de dar fim ao que não se presta a ser sol. No espelho trincado, aquela mesma conhecida imagem nuveada, cinza. Na ponta dos dedos, a desesperada poderosa transpiração dolorida dos enlouquecidos de amor. Ajeito, então, uma vaidade qualquer no corpo ainda rígido e sigo. Porque, do coração, já me escapoliram há tempos as rédeas das mãos.</div><br />
<div style="text-align: right;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-64587077920358212962011-03-23T23:07:00.001-03:002011-03-26T23:55:38.395-03:00Maneco<div style="text-align: justify;">Maneco é nomecarinho, apelido de Manuel dos Santos Anjos, dado por sua mãe de frágil raiz, ceifada poucas horas depois do sofrido parto. Doente do coração, desde nova dividia o peito com o vento morno que lhe soprava dentro e lhe fazia palpitar em arritimia a bomba falha. O quanto de ar que faltava era o mesmo tanto de amor que brotava, enquanto acarinhava embevecida a barriga imensa, morena e redonda feito lua inteira. Trazia Maneco no ventre e, com ele, seu eterno continuar em botão de flor. Maria sabia e ninava a certeza da poesia que brotava dentro de si, cantarolando baixinho seus intocáveis amanhãs. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sozinho, filho de pai desaparecido e mãe enterrada, neto de avós distantes e sobrinho de não se sabe quem, cresceu aos trancos e barrancos no meio de incontáveis sementes ocas que não germinaram. Na terra árida e endurecida - não se faz ideia como - vingou. Inexplicavelmente, manteve-se firme e ereto sobre os estreitos caniços, que até hoje exibem distraídos mais marcas que sua própria pele azeitonada - lembrança irrefutável de Mariamorena. Cópia quase perfeita de sua mãe - exceto pela ausência de alguns poucos dentes - Maneco, em osso e pele, minuto a minuto resistiu. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">É março. Chove copiosamente em um Rio de Janeiro cinzento, e do asfalto esburacado brotam, a cada segundo, lagos amarronzados pontilhados das mais variadas imundícies metropolitanas. Entre guimbas baratas - carimbadas por carnudos lábioscarmim - e prisões plastificadas de espermatozoides malsucedidos, tem de tudo - uma variada gama dos dejetos humanos mais inúteis que se possa cogitar. Há quem pise em cheio nas fundas poças e maldiga dez gerações futuras mais seis passadas. Há quem simplesmente afunde e chore chuva. Maneco, aos vinte e poucos, em mangas de camisa e chinelos de dedo, sentindo as gotas beijarem seu corpo e cantarolarem no meio fio da vida, enternecidamente sorri.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele anda indiferente aos atropelos do centro da cidade apinhado de guarda-chuvas multicoloridos em pé de guerra. Eles se estapeiam, os mumificados ausentes donos dos para-águas. Ferem-se mutuamente com suas pontas afiadas cheias de ferrugem alaranjada, com seus cotovelos pontiagudos, com seus olhos vítreos - frios feito punhais. Maculam quem passa na medida exata com que arranham a si mesmos, todos os plúmbeos dias. Só ele vê. Com seus olhos de Midas - herdados de Mariamãe - só Maneco é capaz de ver a vidaviva que se pode viver, quando não se tem mais nada - coisa nenhuma a perder. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-60955916724207956802011-03-16T01:02:00.013-03:002011-03-26T23:55:38.396-03:00(Re)Para e Re-começa<div style="text-align: justify;">Repara, amor, com cuidado, o som de veludo que ecoa das nuvens, quando escorregam as fofaspantufas no teto estrelado, escuta. Repara o halo azulado daquela com laço de fita e sente, ao longo da espinha, o calor que esparramam seus braços, enquanto rodopiam - imensos - de encontro ao dourado do sol. Repara, pequeno, o verdedoce gostoso dos dias, o poder da ínfima gota, a inteireza brilhante do extenuante caminho do broto, germina. Repara os dedos compridos da chuva que tamborila cantigas serenas, no embalo do teu justosono, acalenta. Repara, de olhos fechados, a imensidão do horizonte do mar - as negras ondas, a espuma farta, a luatoda em mergulho nu, submerge. Repara no roto, no feio, no sujo, no espelho - repara em si mesmo, alimenta. Repara o nada que vibra no fundo do peito, repara o vácuo, o liquefeito, revê. Repara, meu filho, repara a vida que escapole da terra molhada e te acarinha - suave cetim. Percebe o sutil e inesgotável prazer que os rios têm em sempre recomeçar. E re-começa - todas as vastas manhãs.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-29751934575613163042011-02-09T00:34:00.001-02:002011-03-26T23:55:05.173-03:00- fenda, ferida funda -<div style="text-align: justify;">Armada, armazena tocaias e arapucas. Foge. Esnobe, manda e desmanda. E sangra, e escorre, e grita - estapeia(-se?). Minimiza – máxima - e, tácita, entreolha ácida o que nunca foi. Assim, alheia, desmancha, deteriora - em-pó-(p)rece. E chora – implora - se faz falta, evapora. Ela ama! Ah! É toda cama - ama como nunca na vida amou! Mas já é ontem quando o sol desiste. E ela sabe. E invalida, inválida. E insiste, arrasta o nunca, empurra, afasta. E se arranha inteira - metade arrancada. Não cabe! Ainda assim, buraco dentro – fenda, ferida funda - nunca cabe o que se ausenta. É um tanto de peito inteiro - é vácuo. É receio, névoa, neve derretida. Ela é partida. Sem linha de chegada, desejo: o suspenso etéreo desejo de um primeiro - e último! - beijo. </div><br />
<div style="text-align: right;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-66223527733685766772011-01-08T17:12:00.003-02:002011-03-26T23:55:38.396-03:00Entredentes<div style="text-align: justify;">Aquela boca - admirável talho carnudo engolidor de nuncas. Jamais me permiti o destempero de dizer nunca àquela boca, sendo. Ela é - inteira ela, e sempre, a boca - um corpo inteiro em arrepio etéreo, um quase-incêndio, fogo entredentes. Um mundo vivo e pulsante, a se dissolver lentamente no acentuado côncavo daquele céu - não há estrelas, mas mel. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Traz consigo, tatuada entre os talhos ressecados pelas jornadas de excessos - beijados por seus fartos pelos de aurora - a réstia de um beijo, eu sei. E o brilho pegajoso das máximas urgências que construíram ninho, ao longo dos anos, em sua delicada fenda rosada. Todos os dias ela amanhece em fresta, e se faz de ontens. Mas é inteira amanhãs, em mim. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Seu canto me enluara. Faz do meu sertão flor da pele, lua – inteira nua - por entre as nuvens fartas. E arrasta consigo - debruçado no contorno sutil dos lábios entreabertos - o resto das noites brancas em que me escorreu, entregue. Ainda que haja luz, abraça com a ponta da língua o sal dos escuros da chuva. Ela chove, a boca. É relâmpago, raio, trovão – alto-mar bravio, em zanga de furiosas águas. E sorrindo, - bonita sabedora de seus tantos encantos - ensolara, gargalha e geme, como quem estivesse sempre vivendo ou sangrando. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A mando de dentro, brota. Em gotas. E – em inevitável destino-caminho – se encarrega, sozinha, de virar rio aqui. </div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-81818920149060256852011-01-08T17:11:00.000-02:002011-03-26T23:55:38.397-03:00Um(idade)<div style="text-align: center;">Caudaloso rio </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">esse teu branco corpo </div><div style="text-align: center;">de águas doces-claras. </div><div style="text-align: center;">Dentro de si </div><div style="text-align: center;">arrasta mar </div><div style="text-align: center;">aberto-vivo </div><div style="text-align: center;">por entre </div><div style="text-align: center;">as pedras lisas. </div><div style="text-align: center;">Turbulento e revolto, </div><div style="text-align: center;">é úmido</div><div style="text-align: center;">teu bem-querer -</div><div style="text-align: center;">poesia-nua </div><div style="text-align: center;">de albatroz </div><div style="text-align: center;">em caça.</div><div style="text-align: center;">E eu, </div><div style="text-align: center;">sardinha, </div><div style="text-align: center;">brilhante e estapafúrdia </div><div style="text-align: center;">sardinha, </div><div style="text-align: center;">pronta </div><div style="text-align: center;">pra ser devorada </div><div style="text-align: center;">por ti.</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-14041106411846660582011-01-08T17:10:00.000-02:002011-03-26T23:55:38.397-03:00Ousadia<div style="text-align: center;">Esfregam-se em meu olhar </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">todos os dias </div><div style="text-align: center;">infinitos olhos. </div><div style="text-align: center;">No fundo de todos eles </div><div style="text-align: center;">apenas um par </div><div style="text-align: center;">- e seu castanho-amendoado, </div><div style="text-align: center;">profundo mar - </div><div style="text-align: center;">que me olha</div><div style="text-align: center;">me estreita </div><div style="text-align: center;">molha </div><div style="text-align: center;">e espreita</div><div style="text-align: center;">que quase me cega </div><div style="text-align: center;">com seus tantos seres, </div><div style="text-align: center;">reféns-aprisionados </div><div style="text-align: center;">em duas íris só. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Dentro de mim, </div><div style="text-align: center;">dois olhos-chocolate. </div><div style="text-align: center;">Em você, </div><div style="text-align: center;">a bonita ousadia </div><div style="text-align: center;">de ser multidões</div><div style="text-align: center;">aqui.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">(Tudo o que eu queria agora era poder sentir o cheiro do teu silêncio com a ponta dos dedos)</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-36070426237188576752011-01-08T17:08:00.002-02:002011-03-26T23:55:38.397-03:00Drummond nos teus olhosÉ dia de dizer coisas que não se diz a qualquer um, eu sinto. Enquanto você não vem, engulo as palavras uma a uma, bem enroladas, quase emboladas, e guardo-por-pouco-perco lá, bem lá no fundo do peito. No dia em que você chegar, muito perto, quase dentro, vou te saltar no pescoço largo e te encher dos meus melhores beijos, eu sei. E vou esquecer tudo aquilo que ia te dizer agora, nesse exato-angustiado momento, porque perto dos teus olhos de horizonte, toda a importância vira sopro e derrete - praticamente desaparece - bem no meio desse teu oceano lilás sem fim.<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-83856873329565526952010-11-22T17:27:00.002-02:002011-03-26T23:55:05.173-03:00Offline<div style="text-align: justify;">Olhou no espelho depois de semanas ausente de si. A barba por fazer dizia das léguas de distância e da altura do muro que construiu ao redor. O fio branco e reluzente no meio da escuridão no alto da cabeça não era nada diante daqueles olhos sem vida. Eram seus, não havia dúvidas. Mas de quem seria aquela dor que não lhe doía, mas lhe havia matado? De quem seria toda aquela imensa falta de amor? </div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-49637237394864828222010-11-18T00:53:00.002-02:002011-03-26T23:55:38.398-03:00Cíclico<div style="text-align: center;">Brotei </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">gota. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">De um fino </div><div style="text-align: center;">filete </div><div style="text-align: center;">em nascente </div><div style="text-align: center;">de cachoeira </div><div style="text-align: center;">descendo o rio </div><div style="text-align: center;">virei mar. </div><div style="text-align: center;">Beijada de sal </div><div style="text-align: center;">ensolarou </div><div style="text-align: center;">evaporei</div><div style="text-align: center;">renasci </div><div style="text-align: center;">nuvem. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Hoje </div><div style="text-align: center;">choro </div><div style="text-align: center;">tenra chuva </div><div style="text-align: center;">na busca </div><div style="text-align: center;">da essência </div><div style="text-align: center;">de ser pingo </div><div style="text-align: center;">pequeno </div><div style="text-align: center;">e límpido </div><div style="text-align: center;">novamente. </div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Re-começar </div><div style="text-align: center;">em ciclo </div><div style="text-align: center;">pra sempre </div><div style="text-align: center;">outra</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">- gota.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-17387051348071692212010-11-11T23:51:00.002-02:002011-03-26T23:55:38.398-03:00Borboleta nos trilhos<div style="text-align: justify;">Caminhava, linda e delicada. Um passo após o outro - a ponta de um dos pés descalços, tocando cuidadosa o calcanhar seguro. Os braços abertos mantinham em equilíbrio o corpo leve e franzino, e davam a ela um quê de bailarina manca. Ela vibrava nos trilhos. E sorria inteira em sua falta de dentes, era pura inocência, menina. O sol rasgava o azul, e seus fiapos brilhantes atravessavam a seda dourada que voava ao vento. Um fio da trança quase solta beijava a flor meio murcha presa atrás da orelha pequena. Seus olhos seguiam o horizonte, como se lá estivesse guardado o maior de todos os tesouros. Ela comia o futuro com a avidez dos que carregam em si a certeza de nunca terem certeza de nada. O trem, suspirando fumaça em seu ritmo marcado pela rotina dos dias, vinha operário. A menina então, se afastou da rota e deitou no chão - os olhos cinzazulados cerrados, a respiração suspensa - sentindo subir pelas costas cada vagão, cada roda. Tocava toda pedrinha pontuda com a extremidade dos dedos e as levantava com um arco do fino braço, deixando cair uma a uma as notas da sua melodia. Era o trem, era ela, era a incerteza e a beleza do improviso em forma de criança ensolarada. Era a música dos dias, do cinza, do morto, e daquele amarelo brotado em tranças, escapulindo sorrisos pela janela da boca dela. Ela era casa aberta, sinfonia escorrendo pelas portas brancas. A locomotiva, altiva e certa em seu caminho indesviável, sem olhar pra trás, sorriu.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-45418684199346230242010-11-04T21:05:00.000-02:002011-03-26T23:56:03.056-03:00Pequenezas<strong>I.</strong><br />
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Essa dor que carrego nas palmas das mãos - recém-nascida que grita de fome, enquanto eu não tenho mais peito que lhe alimente os medos. Ando paz. Caminho esperanças. Que grite, dor. Que berre. Que morra de fome enquanto eu vingo de amor.<br />
<br />
<br />
<strong>II.</strong><br />
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Ouvindo Vivaldi. E parece que os insetos também, em seu balé irretocável em volta das árvores. Sobem e descem, rodopiam - quase dão as mãos. E se separam, batendo as asas pequenas em Allegro. Por entre os bambus, a vida farfalha. O assobio do vento acompanha o mar que me corre por dentro. Cheiro à terra molhada. Encho enchente - barro(o)ca.<br />
<br />
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<strong>III.</strong><br />
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No meio do mato, despertador é revoada de maritacas. Cantiga de ninar é grilo, que cisma em fofocar com sapo ao pé de estrelas. A música é o vento, que beija as folhas como se fosse seu primeiro e único amor. A beleza é a imensidão do nada - verde musgo com pitadas de azul-céu. E é pra lá que eu vou. Vazia, pra encher de tanto e voltar maior.<br />
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<br />
<strong>IV.</strong><br />
<br />
Trago no peito uma rosa em broto. Na mão, a faca - incapaz de decepar-lhe a vida.<br />
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<br />
<strong>V.</strong><br />
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Vinha pairando - beira d´água. Os pés descalços assoprando ao vento a areia fina, as unhas vermelhas recém-beijadas de mar. Nos cabelos, trazia um cheiro de vida amanhecida - transparente poesia. Cruzei seus passos, a dois centímetros de tocar sua mão. Ela me olhou no susto do vácuo que o tempo fez atravessar seus dedos nus. E naquele mel, derretido, eu vi. E tive a certeza mais certa da abelha: o meu caminho era ali.<br />
<br />
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<strong>VI.</strong><br />
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Tudo que queria era aquelas mãos de pianista, seus dedos ágeis e longos, desenhando o contorno dos seus olhos à meia-luz. Adormecer com a serenata das falanges compridas rascunhando suas sobrancelhas fartas. Sonhar com notas de marfim. E amanhecer melodia.<br />
<br />
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<strong>VII.</strong><br />
<br />
Os olhos sussurram. Silenciam, lamentam, sorriem. São janelas escancaradas ao pôr do sol morno e às tempestades enraivecidas. Jardins brotados, cores. Desertos - areia e vento. Pedras de gelo, diamantes. Brutos. Os olhos vão, me são, tensão. Eles estão - um fio. Fino, leve e vivo - ligação direta dentro-fora, aqui-além. Coração que escapa. Peito que vê. Sou toda olhares.<br />
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<strong>VIII.</strong><br />
No meio de um soluço, a iluminação. Foi um erro - broto do desespero por sentir-se vivo. Abraçou o violão e compôs um tango. Rascante. Que lhe cortou os dedos e lhe arrancou o sangue em suspiros mórbidos. Dez mãos de terra e o sepultamento - sorriu.<br />
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<strong>IX.</strong><br />
<br />
Andava vazio. Cada pedaço de mato, de riso, de espanto, fazia crescer a montanha no canto do peito. Até que um dia ela veio. E brotou bonito pelos olhos - seus galhos verdes anunciando a primavera. Então, ele ventou com força e espalhou seus cacos - abrindo espaço no coração - pra que ela pudesse espreguiçar seus sonhos e hastear, enfim, a bandeira da invasão.<br />
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<strong>X.</strong><br />
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No início, parecia uma valsa. Aqueles rasgos vermelhos na boca do céu - dois pra lá, dois pra cá. Os gritos me remetiam a um coro, uma ópera, talvez. De olhos fechados, eu tentava afastar aqueles olhinhos brilhantes. Eles tinham a vida magnetizante de uma bala de fuzil e insistiam: porquê? Eu não sei, anjo. Eu não consigo entender porque um homem deste tamanho carrega nas mãos um brinquedo que mata. E esse sorriso idiota na cara. <br />
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<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-20598411392852022072010-10-26T16:37:00.009-02:002011-03-26T23:55:05.174-03:00Às moscas<div style="text-align: justify;">Diante do álbum amarelecido pelos anos de clausura na gaveta dos esquecimentos, espantei-me ao ver radiante aquele garoto mirrado. Ostentava, do alto do trono da infância, um sorriso branco e sincero - ainda que incompleto e distante. Já não me recordava daquela felicidade sem pretensões. Daqueles olhos translúcidos, daquele peito aberto - daquele eu sem medo. Esbocei incrédulo, frente à fotografia gasta, um meio sorriso oblíquo. Não pelo que sou hoje - esse velho decrépito, lacrimejante de ontens em preto-e-branco - mas pelo menino inteiro do qual me vesti nos anos idos. Pelo que poderia ter sido e fracassei, acovardado. Por aquele que - pelo acaso dos passos na mata fechada dos sentimentos daninhos, que me atormentaram anos a fio - desencaminhou-se e perdeu-se para sempre de mim. Uma lágrima gorda atravessou-me os vales vincados do rosto. E apreciei, salivando, seu gosto amargo. Como quem arranca de uma vez um naco de vida dos dias mais verdes. Como quem inspira 50 anos de árvore em um só segundo. Eu não queria ter amadurecido. Poderia ter evitado as moscas asquerosas, flutuantes sobre a minha decomposição. Ainda assim, apodreci.</div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-27658152052499488332010-10-19T20:14:00.001-02:002011-03-26T23:55:38.399-03:00Pés armados<div style="text-align: justify;">Enquadrou o meliante. Depois da revista geral, um tête-a-tête. Assaltante que se preze não desvia o olhar, nem se rende fácil à intimidações. Ele era profissional. Chegou bem perto até as respirações se fundirem. O ar saindo de um e entrando no outro, num enfrentamento cíclico e asfixiante. Com a pulsação acelerada, puxou o gatilho. A bala perdida acertou em cheio e derrubou a seus pés o ladrão de corações. Ela pressionou o salto quinze de leve no vale de sua traqueia - enquanto ele acariciava com as mãos ásperas sua batata branca da perna - e sussurrou entredentes, com um sorriso de canto: perdeu!</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-82232905730949057362010-10-14T23:37:00.002-03:002011-03-26T23:55:38.399-03:00Ao meu rei Artur<div style="text-align: justify;">Artur vem chegando num sopro de brisa. Antes de beijar demorado sua testa rosada e abraçar em aconchego o seu corpo franzino, já lhe faço uma coroa. Todos os dias fio uma volta: hoje é carinho. Ontem, felicidade. Amanhã, começo a enfeitar o alto da cabeça com as nuvens mais fofas - azulbebê. Artur vem chegando com todas as flores e cores do mundo. E sorte. Muita sorte de conhecer o amor, antes mesmo de receber o primeiro sorriso. Porque eu amo tanto, que não cabe em mim a felicidade de conceber o meu primeiro sobrinho. Artur é meu rei, de pernas cruzadas, nadando gostoso no quentinho do ventre. Ele é mais uma estrela dessa constelação que faz minha vida brilhar todos os dias. E meu peito ansiar fevereiro - já é carnaval aqui dentro.</div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-35629109764091590792010-10-07T18:16:00.001-03:002011-03-26T23:55:38.399-03:00Oceano em brasa<div style="text-align: center;">Aquele mar aberto </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">no fundo dos olhos. </div><div style="text-align: center;">Aquele sem fim inteiro, </div><div style="text-align: center;">flamejante. </div><div style="text-align: center;">Aquele sempre </div><div style="text-align: center;">aquele nunca</div><div style="text-align: center;">aquilo tudo escondido </div><div style="text-align: center;">e entregue. </div><div style="text-align: center;">Aquele verdeazulado que grita </div><div style="text-align: center;">sem dizer uma única palavra. </div><div style="text-align: center;">Aquilo tudo em mim: </div><div style="text-align: center;">um nada-tanto tatuado </div><div style="text-align: center;">a ferro quente </div><div style="text-align: center;">no corpo em brasa.</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-74050896123118267262010-09-26T23:52:00.002-03:002011-03-26T23:55:05.174-03:00F(r)io<div style="text-align: justify;">Amolou a lâmina fina na pedra gasta e atestou o fio da faca na palma da mão. O aço cortante fez brotar um rio vermelho entre as linhas da vida e da morte. Faltou sorte. E um coração no peito. Com o olhar perdido no reflexo do espelho, afundou a ponta brilhante na veia saltada do pescoço. O colo arfante suspirando o último ontem. O frio do medo, o frio da lâmina, o frio do fio - tênue. Sangrou todos os medos, escorrendo todas as dores. E acabou. Sorrindo.</div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-74410243072198880482010-09-16T21:01:00.004-03:002010-09-16T21:22:36.106-03:00Um cisco<div style="text-align: center;">No broto manso<br />
<br />
o pavor da foice.<br />
Já se nasce<br />
à beira da morte<br />
- diz a noite.<br />
<br />
O sopro pálido<br />
leva a flor de goiabeira<br />
pra longe.<br />
O vácuo frio<br />
engole a chama tremulante<br />
da vela <br />
- o pavio, a cera<br />
o toque do tambor, o uivo.<br />
<br />
Um silvo longo<br />
anuncia o tempo<br />
que mingua<br />
estreito<br />
antes um cisco<br />
do horizonte corar<br />
diante de tanta beleza<br />
<br />
A aurora em mim.<br />
</div><div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-40924480075297230412010-08-30T16:50:00.000-03:002010-09-16T21:22:36.106-03:00Navalha<div style="text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><object height="344" style="background-image: url(http://i4.ytimg.com/vi/Sq7K87sdLzg/hqdefault.jpg);" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Sq7K87sdLzg?fs=1&hl=pt_BR"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/Sq7K87sdLzg?fs=1&hl=pt_BR" width="425" height="344" allowscriptaccess="never" allowfullscreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><strong><span style="font-size: x-small;">(Alto mar no final do horizonte - Joca Libânio)</span></strong></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><strong><span style="font-size: x-small;"></span></strong></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Entorpecida. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Violada. Rarefeita.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Violentamente (desman)telada.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">E toda. Viva.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Um mundo inteiro dentro</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">a regurgitar belezas. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Tão grande-imenso. Tanto.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Tão pouco santo. O manto.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Jardins brotando em fúria</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">de flor em cacto. Seco. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Rompendo estéril. Um risco.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Asas me rasgando o peito. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Nu. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Completamente nu. Alado.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">No céu da boca, o sal. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">A gota - gorda.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">E no minuto seguinte a morte.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">O calabouço. O medo.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">E o calor da sorte </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">a me acetinar o frio.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">E o sabor do vento</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">a me saltar dos olhos.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Enlarguecida. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Emocionada. Liquefeita.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">Amanhecidamente enluarada.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;">(entregue)</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: center;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: left;"><strong>À Joca Libânio e sua música perturbadoramente silenciosa.</strong></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-45194656573787393922010-08-25T00:30:00.004-03:002010-09-16T21:22:36.106-03:00Neutrino<div style="text-align: justify;">Amanheceu lentamente em olhos anoitecidos. O peito, enfaixado ponta a ponta de silêncios, chorou baixinho - como quem murmura ao vento frio sentimentos indizíveis. Na cabeceira, a vela acesa da noite escura resistia. Pequena e morna, em seu amolecido derretimento de vela. Aquelas sombras enormes a lhe pegarem pelas mãos geladas. Aquele mesmo conhecido medo a existir sem. Aquele mesmo sem. A resistir só. </div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-11024679275521249002010-08-10T04:55:00.000-03:002010-09-16T21:22:04.726-03:00Braile<div style="text-align: center;">Sou </div><div style="text-align: center;"></div><div style="text-align: center;">inteira </div><div style="text-align: center;">pedaços</div><div style="text-align: center;">fragmentos </div><div style="text-align: center;">cortantes</div><div style="text-align: center;">sílabas </div><div style="text-align: center;">impronunciáveis.</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">À lápis</div><div style="text-align: center;">me escrevo</div><div style="text-align: center;">à espera </div><div style="text-align: center;">de quem </div><div style="text-align: center;">me soletre </div><div style="text-align: center;">os relevos</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">- em braile.</div><br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-42024705156381448652010-08-08T02:16:00.000-03:002010-09-16T21:22:21.864-03:00Teatro<p> </p><p>Ensaio de Marcia Medina para o meu monólogo Serial Kiiller. Em breve estreando em São Paulo.</p><p>Aguardem!</p><p> </p><p><strong>Parte I</strong></p><p> </p><p><object style="BACKGROUND-IMAGE: url(http://i3.ytimg.com/vi/nmdneSG2Nc4/hqdefault.jpg)" width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/nmdneSG2Nc4&hl=pt_BR&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/nmdneSG2Nc4&hl=pt_BR&fs=1" width="425" height="344" allowscriptaccess="never" allowfullscreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object></p>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-1416516526387369562010-08-08T02:14:00.001-03:002010-09-16T21:22:21.864-03:00<strong>Parte II</strong><br />
<object height="344" style="background-image: url(http://i2.ytimg.com/vi/Q5jsooDSok4/hqdefault.jpg);" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Q5jsooDSok4&hl=pt_BR&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/Q5jsooDSok4&hl=pt_BR&fs=1" width="425" height="344" allowscriptaccess="never" allowfullscreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4431455579912544802.post-26403633283858086812010-07-28T02:33:00.007-03:002010-07-28T03:20:45.329-03:00Ainda bem<div style="text-align: justify;">Amanheceu verde - musgo fértil em ventre de pássaro brotado em horizonte. Antes de abrirem as janelas, lhe descortinou rebelde um sol redondo pelos olhos negros - os raios quentes lhe atravessando íntimos os poros abertos. Sorriu bem dentro, em céu da boca estrelado e dentes pequerruchos de marfim - as covinhas afoitas se debruçando enamoradas no parapeito das velhas rugas - e lentamente amareleceu. A brisa morna fez dançar de leve as cores vivas no varal, e veio delas em magia um cheiro adocicado e primaveril de campo em flor. Um gosto exuberante de tomilho lhe tomou de assalto a ponta da língua - sabor de lembrança que abraça apertado e não deixa partir. Permitiu então que brotasse em pura nascente uma lágrima bonita - perfeita em sua transparência arredondada - que lhe atravessou solene o rosto estreito, como quem mergulha de corpo inteiro em mar aberto, como quem assopra com toda a força dos pulmões um dente de leão - só pra ver a sua alma voar. Dia pleno, pediu ao marido-encantado que lhe escovasse com energia os brancos fios, pra sentir de olhos fechados mais uma vez o prazer do couro cabeludo se esparramando em cascata pelos lençóis trocados - a maciez de algodão a lhe afagar delicada os ombros cansados. Ao longe, uma melodia suave serenava - flautas transversas e violinos em dueto, conversavam poesia sobre rosas-chá. Falavam emocionados do brilho das estrelas e do coaxar dos sapos, como quem fala de champagne e caviar - ela embevecida, ouvia. Noite alta, pensando - o ar faltando e o amor sobrando no peito murcho - achou um bocado estranho tanta vida lhe assoberbar assim os minutos contados, fazendo toda essa batucada irrefreada no coração exausto. Então, em sussurro abraçado ao último suspiro - mastigando com calma todas as vezes em que pisou descalça a grama e dançou em par na chuva - agradeceu baixinho: ainda bem que em mim tudo sempre foi assim. E voou.</div><br />
<br />
<div style="text-align: right;"><em>Sylvia Araujo</em></div>Unknownnoreply@blogger.com10