Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de outubro de 2009

Às vezes

Às vezes acordar é estranho. O sol acinzenta, e o céu - de liso azul - se enche de nuvens, daquelas bem pretas e pesadas como chumbo. É o anúncio de tempestade no peito. Chove torrencialmente cá dentro, e tudo inunda, tudo imunda. Quando se entopem os bueiros, os olhos vazam. E não páram.

Às vezes dormir é estranho. O corpo tem urgência de calma - de alma - mas a mente acelera tal tromba d`água, testando os limites, ultrapassando as barreiras. As pernas se cansam de bandeiradas. Por vezes tremem, por vezes desabam. Quando não dão passo a frente, os olhos vazam. E não páram.

Às vezes seguir é estranho. É complexo caminhar com venda nos olhos, tateando o destino. O futuro se enche de atalhos e escolher paralisa - emudece. Quando o medo não cabe no peito, estrapola. Os olhos vazam. E não páram.

Às vezes chorar é estranho. Vazam amores, pudores, dores. Vazam ilusões e desilusões da mesma maneira em que escorrem alegrias e tristezas. Daqui do meio, tudo vira lágrima. Tudo se esvai em poça. E a vontade que dá é de, correndo, ir lá e sorver tudo de novo - pra não esvaziar, pra não embrutecer.

Sylvia Araujo

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