Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de outubro de 2009

Hiato criativo

A tela branca implora matizes. E as linhas, reticências. Tem dias em que elas se trancam e não se revelam por nada. Gritam sentidos confusos; interrompidos-inseguros. Alguns rabiscos acabam, no entanto, se insinuando por medo da dor. Mas por falta de encantos, desistem. E se entregam, fazendo - de fato - ferir e agonizar o amor.
Na tela lisa vem traço em preto; diagonal, inexpressivo. O sol não possui amarelo, e da rosa não escorre tampouco o vermelho. As cores acordaram egoístas, e não vão dividir seus fascínios - já me disseram - com o peito vazio que empunha o pincel. É preciso sonhar...
Nas linhas amargas, palavras distantes suplicam um elo; não enxergam razão. Precisam do peito repleto de ardor, e no oco do meio não encontram nada, nada além de estranho e extremo rigor. Elas querem dançar sem os passos marcados, mas a mão que empunha a caneta, o ritmo desencontrou, e por fim, o calor esfriou . Sem sentimento a poesia não vive. É preciso vibrar...

(A miséria - no fundo - é da alma, que insiste em enxergar preto e branco um mundo tão cheio de tons e nuances. Miseráveis aqueles que impedem que bailem - em seu ritmo próprio - as letras que vivem tão dentro de si.
Que o tempo desfaça o hiato. E que, depois da tempestade, nos chegue a bonança e a abundância, de um tempo repleto de cores e letras, que se entrelaçam - e se mostram - felizes e inteiras de fato)

Sylvia Araujo

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