Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

19 de abril de 2010

Véu

Num repente, as janelas batem. Estremece com fúria a alvenaria do dentro. Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos. É curiosa a maneira como recobrem a retina e embaçam a visão - meio véu, meio teia - e me escurecem. Com a beleza do som do silêncio dos meus dias de chuva aprendi a ser noite. Quando em vez me embalam cantigas de morte. Sentimentos vazios, olhares perdidos - ando cheia deles. E mesmo que não haja vida nas palavras duras que me habitam hoje, ainda assim deixo que dancem. Escrevo porque a letra que me escorre aquece. Quando me toma pela mão e me arrasta insistente pra dentro das minhas entranhas, onde adormecido - por ora - mora o mais belo sol, me doura a alma. Com um sopro de brisa. E faz com que brotem as mais delicadas sementes, que planto sempre que em mim é primavera. A lágrima rega. E é por isso que eu chovo. Para que enraízem no terreno fértil do meu coração os cheiros mais doces e as mais belas cores que existem em viver. E é só por isso que eu vivo. Mesmo quando o breu do âmago faz revirar o dolorido estômago ulcerado eu sinto, e sinto tanto, que nada nesse mundo vai conseguir arrancar dos meus poros a resplandecência do azul inteiro de um céu de brigadeiro em pleno janeiro.
Ainda é abril.
Até lá, tro-vejo.

Sylvia Araujo

11 comentários:

Celamar Maione disse...

Bela escolha de palavras !
Ainda é abril...outono...época de renovação.

bj

Macaires disse...

Suas palavras são incandescentes e tocam no profundo da alma...

Beijos, Flor!!!

Sueli Maia (Mai) disse...

"Quando é tempestade no fundo do peito, as nuvens se alojam na beira dos olhos."...Quando a vida nos forja em tempestades, e assim aprendemos a ser noite, até mesmo os sorrisos se encobrem com véu.
Um texto outonal, indubitavelmente belo.
beijos, querida

Cynthia Lopes disse...

Sylvia,
chove, chove estrelas
em nós quando te lemos.
bjs

Eduardo Trindade disse...

Que dirá o tempo? Tempo-clima que nos traz sensações tantas e tão diversas... Tempo-lembrança que nos faz querer ir além. Tempo-tempo que nos faz querer ir, simplesmente.
Tempo-te...

Fabi Anselmo disse...

Querida,

Estou bem aquecida pelas letras que escorrem de ti.
E tbém estou esperando por um céu de brigadeiro.

Bju trovejante!

A.S. disse...

Sylvia...

Belo texto poético. É uma delicia ler-te!!!

Beijos
AL

xyz disse...

Densas palavras, mas não menos belas por isso!
Gosto dessas características em um texto.
gostei muito.
abraço
Elis

Pâmela Grassi disse...

"Escrevo porque a letra que me escorre aquece."

As letras que escorrem frias da retina são bebidas pelas palavras aquecidas da alma.

Texto bonito,

Jéssyca Carvalho disse...

Estou realmente encantada!
Maravilhoso teu escrito!
Real e verdadeiro...
Tão, mas tão lindo que chega a doer...
Amei, amei, amei!!!

Beijos pra ti!
Voltarei sempre por aqui...

Anônimo disse...

maravilhoso... já estou virando suspeito pra falar dos seus posts...
encanta, prende, seduz os olhos...
mais uma vez escrevo: muito bom te ler!
parabéns!
beijos guria! cuide-se!