Ela não é capaz de dar dois passos sem salivar. Já tentou de tudo: óculos escuros e queixo empinado, nariz entupido e olhar embaçado, mas não adianta. Sua boca - voluntariosa - se enche de água por onde passa; vira mar pelas cores das flores de março, pela música que escorre da fresta, pelo sorriso da menina na janela, pelo cheiro do arroz na panela. Até os medos ela lambe. Para evitar confusão com a vizinhança, a mãe amarrou em seu dedo um laço vermelho de fita.
- Não esqueça, minha filha: o coração mora lá no meio do peito, e não na ponta da língua, como você imagina.
(dolorido viver com o coração na boca, e não ser compreendido.)
Sylvia Araujo
9 comentários:
Sylvia,
Uma descrição e tanto dos que têm a sensibilidade aguçada.
A incompreensão será sempre essa mordida na língua, mas para os que intensificam sentidos assim, nada lhes tira o sabor.
Lindo texto!
[Dá água na boca a tua escrita!]
Beijos, com esmero.
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Katyuscia.
Ainda bem que eu estou do lado dos que vivem com o coração na boca e posso contemplar tua poesia linda!
;)
Bjocas
"vira mar pelas cores das flores de março, pela música que escorre da fresta..."
Tua escrita é deveras intrigante, traço forte, ágil, e ao mesmo tempo doce...
Beleza de texto.
um beijo para Sylvia,
Márcia
Que descrição sensivel, muito doce!
adorei;*
Ah... Que lindo. Amo historinhas diferentes e que falem de sentimentos. Todos temos loucuras, sentimentos impensados. Isso é humano!
^^ Amei mesmo!
NU!
Deu até vontade de estar perto de um coração assim.
BeijooO'
é raro eu ficar sem palavras... mas teu cantop maravilhoso me dá colo e me silencia... parabéns, e obrigadaço pelo vento que tu soprou por lá.
Que grande verdade!
Estou amando sua prosa e verso.
bjs
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