Outoneço. Desverdeada, busco insana um porto onde espreguiçar o olhar - esse olhar que hoje me esparrama tristezas que até as palavras ir-reconhecem. De dentro, vem em golfos lava fervente que me escorre, abrupta. É súbita a destemperança que reveste de escureza esse tão cheio vazio que me carcome as tripas: é urgente o nada a dizer. Portanto, nada digo para que não se gaste o gesto - escoo em tortuoso e duro poema cru, o medo. Sozinho-me em desbotados instantes meus e anoiteço letra - ela há de empacotar com cuidado os miúdos haveres, há de dar fim ao que não se presta a ser sol. No espelho trincado, aquela mesma conhecida imagem nuveada, cinza. Na ponta dos dedos, a desesperada poderosa transpiração dolorida dos enlouquecidos de amor. Ajeito, então, uma vaidade qualquer no corpo ainda rígido e sigo. Porque, do coração, já me escapoliram há tempos as rédeas das mãos.
Sylvia Araujo
4 comentários:
... do coração, (faz tempo) já nos escapoliram as rédeas das mãos.
Beleza!
entre orgasmos vespertinos
a paixão contempla
uma aurora de fuligem...
percebo sonhos da tarde
arderem aos flancos -
unhando-se...
seiva que sentia -
o que te sinto
em meus sonhos
de lascas e sumos...
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