Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

26 de março de 2011

Duro poema cru

Outoneço. Desverdeada, busco insana um porto onde espreguiçar o olhar - esse olhar que hoje me esparrama tristezas que até as palavras ir-reconhecem. De dentro, vem em golfos lava fervente que me escorre, abrupta. É súbita a destemperança que reveste de escureza esse tão cheio vazio que me carcome as tripas: é urgente o nada a dizer. Portanto, nada digo para que não se gaste o gesto - escoo em tortuoso e duro poema cru, o medo. Sozinho-me em desbotados instantes meus e anoiteço letra - ela há de empacotar com cuidado os miúdos haveres, há de dar fim ao que não se presta a ser sol. No espelho trincado, aquela mesma conhecida imagem nuveada, cinza. Na ponta dos dedos, a desesperada poderosa transpiração dolorida dos enlouquecidos de amor. Ajeito, então, uma vaidade qualquer no corpo ainda rígido e sigo. Porque, do coração, já me escapoliram há tempos as rédeas das mãos.


Sylvia Araujo

4 comentários:

Cynthia Lopes disse...

... do coração, (faz tempo) já nos escapoliram as rédeas das mãos.
Beleza!

luiz gustavo disse...

entre orgasmos vespertinos
a paixão contempla
uma aurora de fuligem...

luiz gustavo disse...

percebo sonhos da tarde
arderem aos flancos -
unhando-se...

luiz gustavo disse...

seiva que sentia -
o que te sinto
em meus sonhos
de lascas e sumos...