Faz tempo que aboliu os espelhos dos dias. Passou a medir sua meninice pela quantidade de laços de fita que cabem alvoroçados no meio dos babados fartos - encompridados de propósito até as canelas finas. Pra evitar que suas pernas esguias se descompassem e esqueçam da música que escoa do tempo, todas as manhãs ela pega pela mão as palavras, e as leva pra dançar. Assopra com força ao vento forte do inverno todos os porquês que carrega no estômago - é essa sua fome de espantos que faz com que todos os sentidos lhe dêem boa noite, todas as noites escuras sem lua. Ela não vive sem eles. Rodeados de cheiros, sons, cores, gostos e minutos felpudos, seus dias nada mais são do que presentes enormes e surpreendentes, embrulhados com o papel mais brilhante de todos, à sua espera em cada amanhecer, na beirada da cama. Repletos de matizes e belezas, cheinhos de vida e alegria, eles se entregam inteiros a ela. Maria, bonita que só, carrega bem dentro um coração de criança.
E é só por isso que ela sonha tão pequeno-enorme assim.
Sylvia Araujo
PS: Com um beijo na Luciana Marinho, do Máquina Lírica, que me soprou a ciranda incandescida, dando vida e poesia à minha Maria. O link dança no meio do texto, de mãos dadas com as outras letras bailarinas.
Um comentário:
sylvia, só vi agora tamanha delicadeza! como pode? não sei, mas como o tempo é criação humana, não há distâncias no universo da poesia. muito grata pela linda, linda surpresa.
beijos!
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