Este blog é uma reunião de textos exclusivamente autorais. Para conhecer mais de mim, dividir sons e sabores poéticos, musicais, cinematográficos, e tantos outros cheiros mais além dos meus, venha tomar um expresso esparramado nas almofadas fofas do meu outro blog, o Abundante-mente. Te espero lá com as velas acesas.

30 de maio de 2010

Pra ver Mateus feliz

Pra ver Mateus feliz, basta um sonho. De padaria mesmo - doce de leite caseiro escorrendo pela fenda funda açucarada. Seus olhos grandes cintilam com o papel manteiga e a primeira coisa que faz quando recebe o embrulho nas mãos é abri-lo com toda a delicadeza e lamber com gosto o doce grudado na folha branca. A saliva escorre.

Pra ver Mateus feliz, basta um gato. Vira-lata mesmo - uma paleta inteira no pelo curto e um rabo grosso de espanador. Suas mãos pequenas afundam no pescoço magro do bichano dócil e não se sabe ao certo quem é que ronrona baixinho - o acarinhado ou o acarinhador. Seu colo estreito vira cama quente e sua voz pequena cantiga de ninar. O coração aquieta.
Pra ver Mateus feliz, basta uma pipa. Preta e branca mesmo - rabiola farta de jornal de ontem e carretel inteiro de linha vermelho-vivo. Suas pernas finas correm pela rua mansa, braço esticado e boca seca, testa franzida em concentração. Domingo é dia de dançar com o vento. A tarde toda é festa no céu - pintado inteiro, arco-íris alado. O olhar estreita.
Pra ver Mateus feliz, basta uma folha. Caída mesmo - pedaço seco despencado ao chão e carregado das histórias do céu. Seus dedos ágeis imprimem vida ao pedaço morto; um assopro e o marrom dourado se transforma em ave e voa de volta até o alto da árvore. Sua intenção não é que ela renasça, mas que vire ninho - casa de folha pra passarinho. O sorriso dança.
Pra ver Mateus feliz, basta o tudo. Cheio de nada mesmo - pra poder enchê-lo do que quiser. E não cabe carro, nem apartamento porque as asas da sua imaginação ocupam todo o espaço do coração. E o que sobra é mesmo só para o amor, que sempre dá um jeito de se espremer entre uma rosa e um bocado misturado de cor.

Sylvia Araujo

3 comentários:

Juan Moravagine Carneiro disse...

A simplicidade de um sorriso é a dança com o infinito...

agradecido pelas visitas ao Rembrandt

abraço

Fabi Anselmo disse...

Ai escritora,

Que beleza essa forma plena e doce do Mateus se preencher.
Belíssimo seu texto!

Cynthia Lopes disse...

Pra me fazer feliz, como ao Matheus, preciso da chuva que cai agora, dos sonhos que empresto as palavras, do tempo precioso que tempo para a leitura dos textos dos amigos, como vc. Lindo e comovente o texto, sem pieguice, apenas lindo, porque simples. Um dia quero te ler em livros! Oh, vou te passar blogs de grupos poéticos aqui no RJ, talvez vc os conheça: http://poesianoleme.blogspot.com/ e http://grupopoesiasimplesmente.blogspot.com/, estes blogs divulgam eventos,vc vai gostar, bjs linda.