Aquela boca - admirável talho carnudo engolidor de nuncas. Jamais me permiti o destempero de dizer nunca àquela boca, sendo. Ela é - inteira ela, e sempre, a boca - um corpo inteiro em arrepio etéreo, um quase-incêndio, fogo entredentes. Um mundo vivo e pulsante, a se dissolver lentamente no acentuado côncavo daquele céu - não há estrelas, mas mel.
Traz consigo, tatuada entre os talhos ressecados pelas jornadas de excessos - beijados por seus fartos pelos de aurora - a réstia de um beijo, eu sei. E o brilho pegajoso das máximas urgências que construíram ninho, ao longo dos anos, em sua delicada fenda rosada. Todos os dias ela amanhece em fresta, e se faz de ontens. Mas é inteira amanhãs, em mim.
Seu canto me enluara. Faz do meu sertão flor da pele, lua – inteira nua - por entre as nuvens fartas. E arrasta consigo - debruçado no contorno sutil dos lábios entreabertos - o resto das noites brancas em que me escorreu, entregue. Ainda que haja luz, abraça com a ponta da língua o sal dos escuros da chuva. Ela chove, a boca. É relâmpago, raio, trovão – alto-mar bravio, em zanga de furiosas águas. E sorrindo, - bonita sabedora de seus tantos encantos - ensolara, gargalha e geme, como quem estivesse sempre vivendo ou sangrando.
A mando de dentro, brota. Em gotas. E – em inevitável destino-caminho – se encarrega, sozinha, de virar rio aqui.
Sylvia Araujo
6 comentários:
Estava com saudades de ler você, lindo e forte seu texto como sempre.Lindo domingo pra você,beijos.
eita...visitei meu passado aqui...saudade dumas bocas...kkk
Lindo texto, Sylvia!
Imagens intensas, como os melhores beijos das melhores bocas.
Lindo mesmo Sylvia!
Adorei esta descrição dos amanhãs em ti.
bjs
Intenso demais. Como todo o seu blog.
Estou seguindo, com prazer!
Visite o meu, grande beijo!
um rio transborda
mil veios róseos
nas rimas da anatomia...
Postar um comentário